Você passaria em um teste de Turing reverso?

Com estardalhaço, o Google lançou há poucos dias o Duplex, um upgrading da Assistant, sua assistente virtual. Com isso, aparentemente deixou para trás concorrentes importantes, como Alexa, Siri, Bixby ou Cortana.

Com estardalhaço, o Google lançou há poucos dias o Duplex, um upgrading da Assistant, sua assistente virtual. Com isso, aparentemente deixou para trás concorrentes importantes, como Alexa, Siri, Bixby ou Cortana. O Duplex é um bot de IA avançado, dotado de aprendizagem de máquina, capaz de manter um diálogo de alta qualidade com um interlocutor humano. 

De fato, interagindo com esse bot, o usuário geralmente não percebe estar falando com um robô. Veja a demonstração dessa nova tecnologia, apresentada pelo CEO da Google Inc., Sundar Pichai, no link <https://bit.ly/2KSlH1I>. 

Trata-se de um feito notável, que chega muito mais cedo do que se previa! Por exemplo, apenas um ano atrás o futurista Ray Kurzweil, citado na ocasião pelo boletim online The Verge, previra que isso somente aconteceria por volta de… 2029!

Entretanto, é bom saber também que, apesar dos aplausos recebidos por Pichai na apresentação do Duplex, provavelmente a maioria dos norte-americanos irá detestar o tal avanço! Segundo um estudo de um ano atrás, da agência de informações MindShare, 75% dos consumidores daquele país se sentiriam enganados, caso descobrissem, após um telefonema, ter falado com um robô e não com outro ser humano. Assim, pode ser uma estratégia inteligente (ao menos por um tempo), propositalmente fazer a assistente virtual falar como hoje, num tom mais robótico e artificial. 

Mas, meu ponto aqui é outro: penso que esse upgrading da Assistant coloca a cada um de nós, seres humanos, um novo e grande desafio.    

Recordemos o teste de Turing: nos anos 1940, o matemático britânico Alan Turing sentenciou que, quando um ser humano viesse a se comunicar com um robô acreditando ser o seu interlocutor também um ser humano, a IA teria finalmente alcançado a maioridade. Pois bem, tudo indica que esse estágio foi atingido! Ponto, portanto, para o Google! 

Chegou então o momento de virarmos a página e enfrentarmos agora um teste de Turing “reverso”: não mais se trata de os robôs terem a inteligência expandida, ao ponto de virem a impingir aos seres humanos a sua (deles, robôs) falsa humanidade; trata-se, agora, de os seres humanos passarem urgentemente a expandir sua própria inteligência, a fim de não permitir que robôs passem por humanos. 

O que os especialistas em IA de fato fizeram foi elevar a barra da inteligência mínima esperada dos… seres humanos! E tudo indica que essa barra será cada vez mais elevada nos próximos anos. Para não ficarem para trás, as pessoas precisarão também expandir sua própria inteligência, isto é, educar-se continuamente, desenvolver mais e mais seu senso crítico. Caso contrário, permanecerão sempre aquém do novo limiar e acabarão o tempo todo iludidas pelas máquinas!  

Em 2008, um professor da Emory University, Mark Bauerlein, publicou um livro considerado polêmico, mas que talvez pudesse ser visto agora como profético: “The Dumbest Generation — How the Digital Age Stupefies Young American and Jeopardizes Our Future”. Nele o autor criticava o baixo nível intelectual que os estímulos pouco desafiadores oferecidos pela internet e pelas mídias sociais impunha ao senso crítico dos jovens adultos.

Pois, se nada for feito, com a chegada ao mercado desses novos “bots superinteligentes”, como a Assistant Duplex, essa estupidificação do usuário médio da internet provavelmente se escancarará ainda mais. Correspondendo a uma crescente expansão da inteligência das máquinas, é imperioso que se promova também uma crescente expansão da inteligência humana — a fim de que ordem natural das coisas não inverta, com quem antes comandava passando a ser comandado e vice-versa. (Lembro-me, por sinal, do lema do brasão de São Paulo: “Non ducor, duco”. Já pensou, termos de admitir, ao invés, um “Non duco, ducor”?)  

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