O novo gestor: amor ou ódio às metas?

No mundo dos negócios, estamos assistindo a uma explicitação cada vez maior desse paradoxo: atualmente mais e mais se insiste em que os gestores se transformem em empreendedores, buscando novas soluções, inovando, reinventando e reinventando-se.

” ‘Adoro’ os prazos de entrega! Bem, adoro mesmo é o som sibilante que eles fazem quando… passam ao largo!” 

A frase debochada acima é de Douglas Adams (1952-2001), o escritor e comediante britânico que escreveu O guia do mochileiro das galáxias, além de outras peças e roteiros, inclusive vários esquetes para o famoso grupo Monty Python. 

Profundamente irônica, a frase revela a utópica aspiração que domina a mente de todo escritor (e de todo artista em geral): profissionais da criação odeiam prazos, metas, indicadores de resultados, avaliações… ou quaisquer limitações que seus clientes lhes venham a impor, quando lhes encomendam um trabalho. Para os profissionais da indústria criativa em geral, quaisquer parâmetros ou métricas que enquadrem a priori sua produção parecem ser ultrajantes, sacrílegos, um verdadeiro desrespeito à arte que criam!  

No entanto, esse desejo de ausência total de algum balizamento prévio para sua produção vai na contramão do mercado. E é, de fato, inalcançável, o que leva a um paradoxo: se, para verdadeiramente criar, eu preciso sentir-me totalmente livre de compromissos; e se, por outro lado, para continuar sendo criativo, eu preciso ganhar dinheiro e, para tanto, devo aceitar as regras a que meu cliente me submete, onde fico, então? 

No mundo dos negócios, estamos assistindo a uma explicitação cada vez maior desse paradoxo: atualmente mais e mais se insiste em que os gestores se transformem em empreendedores, buscando novas soluções, inovando, reinventando e reinventando-se. Deseja-se que eles adotem mais e mais a postura de um artista criador. Design Thinking é a expressão-chave que mais claramente define essa tendência: “Pense como designer, para poder achar novas soluções para os novos e complexos problemas que surgem!” 

Mas, ao mesmo tempo, queremos que esses empreendedores-gestores travestidos de artistas mantenham-se altamente focados nos deadlines, nas métricas, nos KPIs. O resultado dessa colisão é a elevação permanente da “ansiedade da indecisão”, nas empresas e nos negócios. 

A gestão sempre foi um poço sem fundo de contradições e paradoxos: Curto ou longo prazo? Foco ou diversificação? Qualidade ou preço? Make or buy? Agora, a esses e outros dilemas análogos, um novo (e dos mais sérios) descortina-se: em gestão, ser um designer é mais ou menos como emular o deus romano Jano, que tem duas caras: enquanto uma delas olha para a rigidez dos parâmetros já formatados, a outra quer visualizar os excelentes resultados que somente serão gerados pela total liberação da criatividade! 

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